Faculdade importa lá fora?

Tento não entrar na onda dos gênios digitais frustrados à la Zuckerberg. Para começar, sem faculdade eu nem teria sentado para conversar com um gestor da IBM. Por outro lado, a IBM em 2017 anunciou oficialmente que não procuraria mais necessariamente um 4-year college degree (ou seja, nosso bacharel no Brasil de 5 anos). O perigo disso é que se retirado do contexto, torna-se prato cheio para a galerinha jovem que não quer nada com a dureza. Cursar uma faculdade não é uma tarefa fácil se você tem que se sustentar trabalhando desde o primeiro período (como foi meu caso) e abandonar o curso sempre passa pela cabeça das pessoas que não tem o privilégio dourado de somente se preocupar com estudo e notas. Tudo isso torna muito tentador ouvir conselhos de pessoas de sucesso sobre como a faculdade não é importante e como você pode se sair bem melhor sem ela. Bom, no mínimo seria tentar a sorte. Estatisticamente, se você analisar os casos mais famosos, como o de Bill Gates, Steve Jobs e Mark Zuckeberg, vai achar uma dificuldade inicial simples: continuar identificando casos de extremo sucesso com a mesma formação acadêmica. Diga-se de passagem, Elon Musk é físico, Larry Page é cientista da computação e muitos outros casos de igual sucesso possuem uma formação acadêmica mínima. Para aqueles que insistem em levantar a bandeira anarquista de não existir necessidade para a faculdade, é muito simples, como deixa claro Elon Musnk nesse vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=CQbKctnnA-Y&list=PL1A8C1A7F6090E68A&index=189&t=0s
Em um primeiro momento, para um ouvinte mais desatento, pode parecer que Elon Musk não está nem aí para diplomas, até mesmo pelo título do vídeo. Isso é exatamente o que algumas pessoas na internet querem que seja propagado. A questão é que ele deixa bem claro em seguida, sobre “exceptional habilities”. Ou seja, da mesma forma que a nova política de contratação da IBM, Elon Musk fala sobre resultados excepcionais comparados com um diploma tradicional. Então, se você foi o responsável pela criação de uma library como o React.js, ganhou 5 competições de programação internacionais e aprendeu a falar 7 idiomas antes dos 10 anos, muito provavelmente não irá precisar se preocupar com faculdade.
Tirando o exagero sarcástico, a nova onda de recursos humanos (ou seria Human Capital?) não prega a formação acadêmica tradicional, mas uma formação justificada por resultados/certificações que demonstrem resultados equivalentes.
Apesar disso, o que vejo sendo propagado é justamente o contrário. Pessoas sem nenhum resultado palpável e com uma lista de MOOCs procurando empregos na área de Data Science sem nenhuma experiência comprovada. Para o restante dos mortais, sempre será necessária uma formação acadêmica mínima. Outro ponto bastante divulgado na área de TI é a desinformação que academia e indústria são mutuamente exclusivos. Muito pelo contrário, cada vez mais empresas contratam mestres e doutores. Se você quer ter tanto aquela certificação, por que não almejar os dois? Formar e ser certificado? Enfim, essa briga gera um post separado com diferente opiniões: [ link para “preciso de faculdade, mestrado ou doutorado para trabalhar em Data Science?”]
Outra experiência que eu achei interessante vivenciar no Canadá foi o fato de ninguém (ou quase ninguém) conhecer a UFMG. A maioria das pessoas conhecia a USP ou Unicamp por serem “as melhores do Brasil”. No fundo eu ainda me valia da velha carta “Federal University”. Apesar do famoso ditado “no final das contas quem faz a escola é o aluno”, tenho uma boa comparação que normalmente cessa a discussão sobre este assunto. Em um processe seletivo entre você e seu clone formado em uma boa universidade, com as mesmas experiências, certificações, cursos e habilidades. Seu clone sempre seria o vencedor. A lição que fica é que universidade tem seu peso sim, o que não pode acontecer é sentar em cima dos louros achando que venceu a guerra por ter formado. Uma pessoa de uma escola não tão prestigiada facilmente pode ser preferível por ter mais experiência, certificações, traquejo ou mesmo indicações (o famoso networking).